Meu Blog transformou escrever um hábito saboroso...eu sei que ultimamente tenho produzido bem pouco...é a falta de tempo e às vezes, de inspiração também. Mas, arrumar coisas legais etc, enfim interagir por este espaço tem se transformado numa tarefa agradável e de todo modo, vou aqui mostrando um pouco do meu jeito de ser e pensar. Não posto imagens de crianças, considero abusiva a exposição infantil por qualquer adulto, lembrando que elas não tem poder de consentimento para serem expostas. Continuo insistindo em selecionar o que for de meu agrado, mas espero que também seja do gosto de quem lê, acompanha o meu Bloguinho. Através do tempo, continuo sintetizando-me assim: insisto em praticar a fidelidade como princípio de vida; não sou doce, não sou submissa do mundo, sou dócil para quem eu amar e me amar também: o que acontece sem uma correspondência total e bionívoca não me atrai...prefiro emoções à matéria; não sou adepta de parcerias de coleiras, não estou em gôndolas, sou extremista e radical nas idéias; não sou deslumbrada nem deliro com impossibilidades, o que tenho me basta e me situa. Acredito no amor, sei que é o melhor presente da vida, por isso respeito quem eu amar, o amor que dou e o que recebo: para mim, submissão é sinônimo de amor sempre. Não invento alegrias falsas, sou naturalmente alegre e simples no meu jeito de viver. Neste mundo, dou-me o direito de curtir a quebradeira de um funk bom e não fico parada no batuque do samba. Uma das coisas que mais me incomoda é a falta de compromisso com tudo na vida, que muitas vezes se encontra por ai. Enfim, eis me aqui, sou assim: eu VIVO!


7 de out. de 2010

Homenagem a Mario Vargas Llosa, Premio Nobel de Literatura 2010

A Festa do Bode

(Editora Mandarim )

Acordou, paralisado por uma sensação de catástrofe. Imóvel, pestanejava na escuridão, preso em uma teia de aranha, a ponto de ser devorado por um bicho peludo cheio de olhos. Por fim conseguiu esticar a mão até o criado-mudo onde guardava o revólver e a metralhadora portátil carregados. Mas, em vez da arma, empunhou o despertador: dez para as quatro. Respirou. Agora sim, estava totalmente acordado. Pesadelos outra vez? Ainda tinha alguns minutos, pois, fanático pela pontualidade, não saía da cama antes das quatro. Nem um minuto antes nem um depois.

"Devo tudo que sou à disciplina", pensou. E a disciplina, norte de sua vida, ele devia aos marines. Fechou os olhos. As provas, em San Pedro de Macorís, para ser admitido na Polícia Nacional Dominicana, criada pelos ianques no terceiro ano de ocupação, foram duríssimas. Mas ele passou sem dificuldades. No treinamento, metade dos aspirantes foi eliminada. Ele aproveitou cada exercício de agilidade, arrojo, audácia ou resistência, até mesmo aqueles mais ferozes, para mostrar força de vontade e obediência ao superior, como afundar em lodaçais com o equipamento de campanha ou sobreviver nas montanhas bebendo a própria urina e comendo talos, ervas, gafanhotos. O sargento Gittleman lhe conferiu a nota mais alta: "Você vai longe, Trujillo". Tinha ido, sim, graças a essa disciplina férrea, de heróis e místicos, que os marines lhe ensinaram. Pensou com gratidão no sargento Simon Gittleman. Um americano leal e desinteressado, naquele país de pilantras, exploradores e babacas. Teriam tido os Estados Unidos um amigo mais sincero que ele nos últimos trinta e um anos? Que governo os havia apoiado mais na ONU? Quem foi o primeiro a declarar guerra à Alemanha e ao Japão? Quem lubrificou com mais dólares deputados, senadores, governadores, prefeitos, advogados e jornalistas americanos? Retribuição: as sanções econômicas da OEA para agradar o negrinho do Rómulo Betancourt e continuar mamando o petróleo venezuelano. Se Johnny Abbes tivesse feito melhor as coisas e a bomba tivesse arrancado a cabeça daquele veadão do Rómulo, não haveria sanções e esses americanos babacas não estariam pentelhando com conversas de soberania, democracia e direitos humanos. Mas aí ele não teria descoberto que, naquele país de duzentos milhões de babacas, tinha um amigo como Simon Gittleman. Capaz de iniciar uma campanha pessoal na defesa da República Dominicana, lá de Phoenix, Arizona, onde se dedicara aos negócios depois que entrara para a reserva dos marines. Sem pedir um centavo! Ainda existiam homens assim entre os marines. Sem pedir nem cobrar! Que bela lição para esses sanguessugas do Senado e da Câmara dos Deputados, os quais ele engordava há tantos anos, que queriam sempre mais cheques, mais concessões, mais decretos, mais isenções fiscais, e que agora, quando necessitava deles, se faziam de bobos.